Pra dizer Adeus, canção gravada no início da carreira de Elis, prefigura o que vimos em Trem azul, quando ela cantou Se eu quiser falar com Deus. A primeira canção versava sob a perspectiva do amor; a segunda, não necessariamente, havia um traço de desprendimento à existencialidade, acentuado pelo texto recitado na abertura do show; em meio a aplausos incessantes de seus seguidores, externava a possibilidade de ir-se, como se avistasse um poço de água mais doce, nas bordas de um planeta melhor. As palavras proféticas e viscerais que cantava ou dizia, vestiam-se de uma dramaticidade transcendente: queria a luz apagada, gritava pela solidão, rastejava-se, desnudava corpo e alma: "Eu tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar..." Os braços verticais são hélices ritmadas que riscam o ar, sem a voracidade de cata-vento, desencadeada em outras pelejas e sedes. "Tenho que subir aos céus sem cordas pra segurar..."
Esse trem que a levou não é aquele que atropela borboletas e barbeia girassóis na via-férrea: o embuá solitário caminha triste, arrasta-se pelas veredas das serras; viandante de rosto sedento, mas nunca avista uma nascente. Mesmo entoando ladainha segue com andar de condenado, carregando seu cansaço, escravo de um fazer que não se finda... E chega o trem alado e a arrebata, deixando "um rastro espelhado e brilhante"; vai-se inaugurando outras trilhas siderais, e ancora na estação azul, exílio de uma nova estrela.
O primeiro show, no Beco das Garrafas-RJ, na noite em que ela insistia em ficar: "Um dia tudo isso vai ser meu".
Trem Azul, o último show
Belo texto e as imagens estão magníficas!!! parabéns!
ResponderExcluirElis cantante dá uma idéia de continuidade. E o visitante nos anima, é um fôlego a mais. Obrigado!
ResponderExcluirMuito bom mesmo adorei seu blog, você escreve muito bem...Grande Elis Regina...Parabéns!
ResponderExcluirFrancy Sales/Tutora.
Surpresa boa, Francy! Tenho que atender o chamado das letras: há vozes, vozes me chamando... Clique em nome, depois publicar. Obrigado.
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