sábado, 17 de dezembro de 2011

Trem azul das onze

TREM AZUL DAS ONZE


Elis parte cedo, em segredo, no trem azul das onze, e todos correm desesperados, gritam pelo maquinista que atiça mais lenha à Maria Fumaça, arrastando-se nos abismos das serras, engolindo bromélias e girassóis. Sedenta e solitária vai a 'Maria' com sua voz arranhando estrada de ferro, viandante apressada sob os trilhos pra depois  afogar-se no ocaso... "Some longe o trenzinho... E "Maria fumaça não canta mais..." Mas um navegante alado a arrebatou, ancorando nas bordas de um planeta de água mais doce.

Elis Regina In Montreux -- 1979 (Parte 8/27)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Falso Brilhante


 
Libreto do DVD "Falso Brilhante" - Trama

Tudo o que foi feito por Elis Regina, ao longo de sua carreira, é de bom gosto e logo reflete, positivamente, na sociedade.  Hoje de manhã, arrumando CD's e DVD's, quis revê-la cantando o Guarani e aquele pout-pourri de Falso Brilhante (La Puerta, Hymne a L'amour, Ojos Verdes...). Impressionante aquela montagem, não é à toa que ela passou mais de um ano em cartaz. Falso Brilhante, o musical, tem o formato desses que são apresentados na Broadway... E o disco dessa época quase que não seria gravado, faltava tempo devido ao compromisso com o show, exibido no Teatro Bandeirantes, São Paulo. Mas decidiram: e tudo foi bem planejado,  e partiram em missão, algo cinematográfico. Amanheceram no Rio e entraram no estúdio para gravar o LP, com a preocupação de regressarem  para a apresentação seguinte. Elis assegura: Saudade do Brasil foi o melhor espetáculo que eu fiz na vida", disse a cantora. Mas Falso Brilhante "ficou marcado, a ferro, a fogo, em carne viva..." É, de fato, o show da transformação, que tem Fascinação como a mais bela canção contra à popularidade de Como nossos Pais.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

À luz da Cidade Luz

Boulevard des Capucines

 à sombra da cidade, à luz do sol

 Paris: a cidade a seus pés, à luz do Teatro Olympia

As imagens vieram do arquivo de José Roberto Sarsano, gentilmente cedidas. São vários momentos de Elis em Paris: da apresentação sob às luzes do teatro, ao passeio pelas ruas da cidade, à luz do sol. Imagens emocionantes de Elis Regina com o Bossa Jazz Trio, na memorável temporada do Olympia (1968): uma festa em Paris. No entanto, Elis em Paris pode ser rememorada no livro lançado pelo músico, Boulevard des Capucines,  onde ele conta as minúcias desse encontro.

sábado, 2 de julho de 2011

Arte Maior de Elis Regina

 PolyGran
Esse álbum esplendoroso de 1983, da capa à coletânea, traz os sucessos maiores da carreira de Elis, num momento de avidez, depois de um ano da morte da artista. Tivemos a oportunidade de conhecer algumas músicas, como "Alô...Taí Carmem Miranda", "Dinorah", "Cais", Tiradentes, etc., de difícil acesso de mercado, à época No entanto, a Arte maior de Elis Regina, é o registro de todo o seu trabalho.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Elis & Jair


Depois dos desabafos na sua última aparição no Beco das Garrafas, Elis bota o pé na estrada e começa a cantar pra valer. Os shows em São Paulo vão mostrando, ao público, que a gaúcha não está de brincadeira. Walter Silva, o Pica-Pau, é quem está à frente desta nova fase da carreira da jovem Elis, que ainda guardava ressentimento da noite carioca: "Eu tinha olhar de espanto e o coração aberto demais..."
É quando surge o Festival da TV Record e ela abocanha o primeiro lugar, cantando "Arrastão" (Edu Lobo). O Brasil entendeu, mais tarde, o recado da moça: "Deus me deu essa voz e isso é a maior coisa que tenho. Cantar é sarcerdócio". O cabelo era uma torre erguida com laquê, lágrimas escorrendo sobre o rosto pesado de maquiagem, melando e lavando o sorriso largo; braçadas longas no mar sem fim... "Valha-me Deus, Nosso senhor do Bonfim / Nunca, jamais se viu tanto peixe assim...". Mas o arrastão não colhe apenas as vísceras do mar, este deu origem a uma das maiores cantoras do Brasil e do mundo.
Naquele dia a vencedora de Arrastão acordou cedo: café pequeno, um cigarro atrás do outro, o telefone não parava de tocar, marca entrevistas. Elis desce à sala de recepção do edifício e se depara com revistas  e jornais sobre o balcão... Em seguida aparece em capas de revistas. Começa a chorar, sorrir, andar, assoviar. Conversa rápido com  a imprensa: tem pressa em chegar à televisão para falar da música premiada e de outros projetos musicais. 
Em pouco tempo é contratada para comandar o Fino da Bossa, em parceria com o sambista Jair Rodrigues, originando três Lps dosados de sucessos como Exaltação à Mangueira, Tristeza que se foi, Marcha de quarta-feira de cinzas, O morro não tem vez, O Sol Nascerá, etc. A televisão brasileira transmitia o que havia de melhor na MPB; Elis Regina saboreava, triunfante, seu melhor momento.
Mas Elis se foi cedo deixando uma legião de fãs com muita saudade. Jair continua a cantar com sua voz possante, esbanjando talento em suas apresentações afora. 


quarta-feira, 16 de março de 2011

A caminho do sol

 Imagem: Essa Mulher, Tv Globo/1979

http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/elis-regina-a-caminho-do-sol/175527

domingo, 23 de janeiro de 2011

Carta de Caio F.



 “Colaborei com a seção de literatura da Veja durante cerca de quatro anos. E pedi demissão quando morreu Elis Regina. Imagino que todo mundo lembre da capa da Veja na época. “Elis Regina, a tragédia da cocaína” – onde tratavam Elis como uma viciada irrecuperável. Coisa de gente não só careta como também mau-caráter. Liguei para o editor de literatura e disse: ‘Por favor, vá dizer ao seu patrão que não quero nunca mais ver meu nome numa revista desse nível.'"

Caio conhecia Elis dos tempos de adolescente, em Porto Alegre, e a chamava de maninha. Em sua homenagem, escreve uma crônica e a endereça a Paula Dip:

“Maninha, precisava ser agora?
Eis, quando eu soube, assim de imediato, não acreditei. Esse vício de eternidade que a gente tem. E logo você, bicho? Tão agitadinha, tão atrevidinha e cheia de vida. Fui ao banheiro lavar o rosto, molhar os pulsos e olhar bem a minha cara cansada de 33 anos. Quando saí e espiei em volta tudo continuava lá. Feito nada tivesse acontecido Lembrei duma história da mitologia grega. Contam que quando morreu Pan, o deus da música, alguns pescadores ouviram uma voz misteriosa gritar numa praia deserta: ‘O grande deus Pan morreu!” E nunca mais se ouviu falar dele. Hélice – como te chamava a Rita, acho que por causa daquela sua mania antiga de girar os braços enquanto cantava, em tempos de Arrastão – eu não sei o que estou sentindo. Depois do trabalho, saí a procurar pelas ruas do centro da cidade um sinal qualquer que confirmasse ou desmentisse tua partida. Não encontrei nada. As lojas não tocavam seus discos. Ninguém caminhava devagar. Não havia nenhuma melancolia específica no céu, além do cinza habitual. Só eu assobiava baixinho “Acender as velas já é profissão, quando não tem samba, tem desilusão”. (Vezenquando, só de sacanagem, você dizia ‘Quando não sou eu, é Nara Leão’, e dava aquela risada gostosa.) Então peguei um táxi e vim embora. Pedi para o motorista ligar o rádio, mas tocava Núbia Lafaiete. Você acharia engraçado. Pedi para ele parar antes de casa, comprei duas garrafas de vinho. Estou no meio da segunda. Pimentinha, que difícil que tá. Você tem que amar quem você ama agora, JÁ, você tem que começar a fazer tudo o que você quer porque a bruxa tá do lado esperando. Elis, eu também vou morrer nem sei quando. Antes eu queria tanto ser feliz. Embora nem saiba como é isso. Acendo uma vela branca procê ir embora numa boa. Abro as janelas e ponho bem alto você cantando ‘Primeiro Jornal’, porque é assim que quero te guardar, juntando tua voz matinal aos restos dos sons noturnos que ainda boiam na casa. Não tenho medo da morte. Tenho medo da vida. Baixinha, foi tão de repente... Mas ainda ontem, todo domingo de manhã eu ia ao cinema Castelo assistir você cantando no programa do Maurício Sobrinho, da Rádio Gaúcha. Você vinha com aqueles vestidos repolhudos cantar ‘Banho de lua’ e aquelas versões tipo Fred Jorge (Vixe, como tô ficando veio, guria!). No fim todo mundo aplaudia de pé, dançava e cantava junto. Depois, feito a Janis Joplin fez com Port Arthur, você saiu de Porto Alegre. Foi ser estrela na vida. Falavam mal, então como falavam: porque isso, porque aquilo, porque você chiava como carioca, que era metida que nem parecia ter saído dali do Partenon, que parecia que tinha Deus na barriga (descobri depois que você tinha mesmo, não na barriga, mas na voz). Nunca mais te vi ao vivo, só no finzinho do ano passado, no Anhembi. De repente você disse que queria falar com Deus. Eu me arrepiei. Parecido com quando você cantava ‘Atrás da porta’. Ou quando, naquele inverno comprido eu atravessava noites bebendo conhaque ouvindo ‘As aparências enganam’. Uma vez a Paula Dip bateu na porta enquanto você cantava e, mal abri, ela caiu no choro, porque tinha vindo contar-me coisas sobre esses enganos, essas aparências.
Maninha, precisava ser agora? Em pleno verão, o sol quase em Aquário. Sei que teu coração não aguentava mais tanta barra. Sacanagem... E juro que agora eu ouvi você rindo assim: quá-quá-rá-quá-quá. Tô sentindo um oco, Hélice. Tão ruim. O dia não conseguiu chover: eu queria agora chorar todo o choro que o dia não chorou por ti. Não consigo. Eu tenho a impressão de que poderia reconstituir, dias após dia, desde uma daquelas manhãs de domingo no Cine Castelo (que coisa mágica, eu tinha 12 anos, você 15) até estas duas da madrugada de hoje? Consigo não, Che. A gente, que é gaúcho, se entende. O tempo existe, Pimentinha, e passa, leva no arrastão as coisas e as pessoas que não morrem: ficam encantadas. Y solo resta el silencio, un ondulado silencio...
Nós te amávamos tanto, tanto. Guria. Até.

Caio Fernando Abreu"

A escritora do livro, Paula Dip, ainda acrescenta uma experiência sua, com relação à partida de Elis, quando foi fazer uma matéria de cobertura:

“[...]com naturalidade das pessoas acostumadas àquele tipo de trabalho, Shibata [Harry Shibata, médico] – que era considerado conivente com a tortura no governo militar – demorou para me passar o laudo, mas fez questão de exibir fotos de Elis, sobre a mesa de necrópsia, com um corte vertical do queixo à pelve, fechado por grampos de metal.
Eu nunca havia visto nada parecido. Foi horrível ter a maior cantora do Brasil tão exposta e indefesa. Tinha apenas 36 anos.”


(nesta imagem, Caio F. e Paula Dip, amigos também de trabalho, aparecem em fotos trocadas, tiradas por eles mesmos, em meio a uma pausa)

[O Livro: Para sempre teu, Caio F. Cartas, conversas, memórias de Caio Fernando Abreu. 2009. Editora Record]

Imagens: Eli, blog 20 anos Blue 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Elis Regina - Cadeira Vazia

Elis Regina - Atras da Porta - ao vivo

Elis Regina - Alô Alô Marciano - Grandes Nomes

Expo/Elis

Notícia: em março deste ano, mês que Elis faria aniversário e completaria 66 anos de idade; depois de passar pelo SESC, em João Pessoa-PB, Natal-RN vai sediar a Exposição "Francis rememora Elis Regina", quando o poeta apresentará seu acervo, avaliado como o mais completo do nordeste.  Tributo a Elis encerra seu livro entitulado Imagens Eternas, onde lê-se uma reportagem em tom poético. A mostra enfatiza os 30 anos de "Saudade do Brasil, espetáculo que estreou no Canecão-Rio, em 1980 e o  lançamento do álbum duplo; trabalho que marcou, profundamente, a carreira da artista. Saudade no Brasil, parafraseia o poeta: "Elis sentia saudade do que estava  presente, a  ser conquistado, época com fortes resquícios de ditadura. Além da valoração a costumes e épocas, o show respirava brasilidade: cenário verde-amarelo de bananeira, choro-repertó-rio que em tudo delata. 'Lembro assim com saudade, lembro por acreditar, se muito vale o já feito, mais vale o que será... Quando o  cansaço era rio...' Ainda em 1980, a TV Globo exibiu a série Grandes Nomes, que caracterizava uma extensão do que fora visto no Canecão. Saudad'elis!' ". Mas, em 2011, também comemora-se 30 anos do show Trem Azul,  o último da carreira da cantora, que morreria no início de 1982. Contudo, a expo/Elis trará à tona a trajetória da maior cantora da MPB.