Depois dos desabafos na sua última aparição no Beco das Garrafas, Elis bota o pé na estrada e começa a cantar pra valer. Os shows em São Paulo vão mostrando, ao público, que a gaúcha não está de brincadeira. Walter Silva, o Pica-Pau, é quem está à frente desta nova fase da carreira da jovem Elis, que ainda guardava ressentimento da noite carioca: "Eu tinha olhar de espanto e o coração aberto demais..."
É quando surge o Festival da TV Record e ela abocanha o primeiro lugar, cantando "Arrastão" (Edu Lobo). O Brasil entendeu, mais tarde, o recado da moça: "Deus me deu essa voz e isso é a maior coisa que tenho. Cantar é sarcerdócio". O cabelo era uma torre erguida com laquê, lágrimas escorrendo sobre o rosto pesado de maquiagem, melando e lavando o sorriso largo; braçadas longas no mar sem fim... "Valha-me Deus, Nosso senhor do Bonfim / Nunca, jamais se viu tanto peixe assim...". Mas o arrastão não colhe apenas as vísceras do mar, este deu origem a uma das maiores cantoras do Brasil e do mundo.
Naquele dia a vencedora de Arrastão acordou cedo: café pequeno, um cigarro atrás do outro, o telefone não parava de tocar, marca entrevistas. Elis desce à sala de recepção do edifício e se depara com revistas e jornais sobre o balcão... Em seguida aparece em capas de revistas. Começa a chorar, sorrir, andar, assoviar. Conversa rápido com a imprensa: tem pressa em chegar à televisão para falar da música premiada e de outros projetos musicais.
Em pouco tempo é contratada para comandar o Fino da Bossa, em parceria com o sambista Jair Rodrigues, originando três Lps dosados de sucessos como Exaltação à Mangueira, Tristeza que se foi, Marcha de quarta-feira de cinzas, O morro não tem vez, O Sol Nascerá, etc. A televisão brasileira transmitia o que havia de melhor na MPB; Elis Regina saboreava, triunfante, seu melhor momento.
Mas Elis se foi cedo deixando uma legião de fãs com muita saudade. Jair continua a cantar com sua voz possante, esbanjando talento em suas apresentações afora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário