Esse tal João
O crescimento da obra de Elis Regina é visível, a partir das composições de João Bosco/Aldir Blanc, desde o início dos anos 70, o que faz a cantora desvencilhar-se do repertório que conduziu desde O Fino da Bossa, para enveredar na crítica sardônica, a exemplo de O Mestre-sala dos Mares e Caça à Raposa, gravadas no LP Elis/1974. Depois Elis teve um encontro inesperado com o cearense Antonio Carlos Belchior, que a procurou com uma letra de música, e a artista sentiu a necessidade de se renovar; como enfatiza o jornalista Walter Galvão: "o projeto filosófico incorporou-se a sua obra", dando uma nova proposta ao seu trabalho: "Ele é o filósofo do nosso tempo", declarou a cantora. E até hoje é a mais tocada nas rádios; um texto que não se dissolve. A música O Bêbado e a Equilibrista, sucesso absoluto em Essa Mulher/1979, novamente, João Bosco/Aldir Blanc impulsionam outro momento importante na carreira de Elis,num período assustador da história política brasileira, a ditadura militar. "Elis era o estômago do país inteiro", disse Henfil. O cartunista teceu intensa crítica, quando ela cantou nas Olimpíadas do Exército, a enterrando na charge do Cemitério dos Mortos Vivos, causando indignação à cantora, que sempre manteve uma postura política confiável. Como se fosse acerto de contas, retratou-se: Betinho, aquele invocado na canção, estava de volta pela brecha da abertura política; eles reataram a amizade e puderam pensar uma porção de coisas juntos... Mas os anos se encurtaram, e Elis ainda gravou dois discos em1980: Elis, com composições de Guilherme Arantes e os Borges, mais o álbum duplo, com a íntegra do show Saudade do Brasil; onde ela canta o Brasil com suas cores e que dá saudade... O repertório para o novo disco de 1982 estava pronto; gravaria Nos Bailes da Vida, de Milton Nascimento, por quem ela tinha verdadeira admiração: "Se Deus cantasse, cantaria com a voz de Milton", acrescentou. É um pedaço de chão do Brasil que se desintegrou... Bye, bye, bye Brasil!