Cauby estava cantando: "Conceição eu me lembro muito bem...", música que não pode deixar de ser lembrada em seus shows. Descia a escada ainda cantarolando a canção. Alguém disse-lhe, baixinho, qualquer coisa, e ele veio em minha direção, já no corredor que o levaria a ver a lua deitada na Lagoa. E eu não podia perder tempo com galanteios de tiete, falei logo de sua gravação com Elis, no disco Essa Mulher / 1979. Ele estava onomatopaico, pôs o braço no meu ombro: "hum, um, um, um... lará, laiá, laiá... turu, ru, ru, ru... liri, ri, ri,, ri, ri..." E lembrou-se da letra do bolero amargo, envenenado, pagã... Discretamente começamos a cantar/ol(h)ar: "Você me deixou como o fim da manhã / E em mim começou essa angústia, esse afã / Você me plantou a paixão imortal e mal sã / Que se enraizou e será meu maldito final amanhã... / É a seta do arco da noite /Sangrando-me agora..." Elis já tinha bateado algumas pedras no garimpo do pensamento, e muitas desceram na correnteza da seleção; sobrou a voz preciosa de Cauby, prontamente cedido por sua gravadora. O cantor entrou na Van, nevoada pelo "arco da madrugada", e eu pisava na grama pantanosa da borda da Lagoa, com vontade de chorar, quase louco, já de manhã.